CELEBRAR O DOMINGO OITAVO DE PÁSCOA — PENTECOSTES


Não celebramos um desconhecido! É uma força, uma luz, um fogo, uma rajada de vento! De facto, é precisamente através do seu dinamismo, da sua ação, que o podemos reconhecer: transforma os Apóstolos em testemunhas e os ouvintes em admiradores maravilhados (primeira leitura); é o sopro criador (salmo); faz-nos produzir os frutos da vida divina recebida no batismo (segunda leitura); é a luz do Ressuscitado que nos conduz na verdade (evangelho). É o Espírito Santo!

«Começaram a falar outras línguas»
Na Ascensão, Jesus Cristo promete a vinda do Espírito Santo. Agora, cumpre-se a promessa de uma forma que supera todas as expectativas: imprevista e surpreendente. A narração do livro dos Atos dos Apóstolos explica-a desta forma: «um rumor semelhante a forte rajada de vento, […] uma espécie de línguas de fogo […], começaram a falar outras línguas».
Do ponto de vista da fenomenologia, Pentecostes é uma festa judaica e cristã. Em ambos os casos, está associada a «cinquenta dias» (o significado de «Pentecostes» em grego): para os judeus, é a «festa das colheitas», no início do verão; para os cristãos, assinala o dom do Espírito Santo, o culminar da presença de Jesus Cristo, depois das aparições pascais.
Do ponto de vista da Igreja nascente, Pentecostes é o início da missão em toda a costa mediterrânea. Os judeus que tinham ido a Jerusalém, por causa de uma das três festas de peregrinação (Páscoa, Pentecostes e Tendas), voltam aos seus lugares de origem; muitos deles comunicam as novidades trazidas de Jerusalém: a Páscoa e o dom do Espírito Santo.
Do ponto de vista da Bíblia, tomada como uma só Aliança, a única que Deus faz com o ser humano, Pentecostes supõe a oposição a Babel. Em Babel, o pecado provoca a dispersão dos povos (diversidade de línguas); no Pentecostes, o Espírito promove a união (apesar de serem de povos distintos, todos se entendem). Babel é desunião; Pentecostes é comunhão. Babel é falar a língua da oposição; Pentecostes é falar a língua do amor. Babel é a oposição que produz rutura; Pentecostes é a unidade na diversidade. A Igreja só pode buscar um novo Pentecostes; nunca uma nova Babel.
Ninguém é excluído do dom do Espírito Santo: primeiro, «todos [os Apóstolos] ficaram cheios do Espírito Santo»; depois, «cada qual os ouvia falar na sua própria língua» (eram pessoas provenientes da diáspora greco-romana). O que acontece durante o Pentecostes não é uma experiência mística interior, mas uma manifestação do poder de Deus que toca a vida de cada pessoa: evangelizadores e evangelizados.

Pentecostes é o final de uma etapa e início de outra. Jesus Cristo oferece o Espírito Santo; a Igreja acolhe-o e celebra-o. Assim, começa um novo caminho de evangelização e de presença no meio das pessoas, movidos não pelo espírito da concorrência e da oposição, mas sob o espírito do diálogo e da escuta do Espírito Santo. «Invoquemo-Lo hoje, bem apoiados na oração, sem a qual toda a ação corre o risco de ficar vã e o anúncio, no fim de contas, carece de alma» (EG 259).

© Laboratório da fé, 2015

Celebrar o domingo oitavo de Páscoa — Pentecostes (Ano B), no Laboratório da fé, 2015


Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 22.5.15 | Sem comentários
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