PREPARAR O DOMINGO DÉCIMO SEXTO
20 DE JULHO DE 2014
Sabedoria 12, 13.16-19
Não há Deus, além de Vós, que tenha cuidado de todas as coisas; a ninguém tendes de mostrar que não julgais injustamente. O vosso poder é o princípio da justiça e o vosso domínio soberano torna-Vos indulgente para com todos. Mostrais a vossa força aos que não acreditam na vossa omnipotência e confundis a audácia daqueles que a conhecem. Mas Vós, o Senhor da força, julgais com bondade e governais-nos com muita indulgência, porque sempre podeis usar da força quando quiserdes. Agindo deste modo, ensinastes ao vosso povo que o justo deve ser humano e aos vossos filhos destes a esperança feliz de que, após o pecado, dais lugar ao arrependimento.
O justo deve ser humano
O texto no seu contexto. Alguns comentadores afirmaram que o livro da Sabedoria, mais do que um livro «sapiencial», tal como o entendemos hoje na nossa cultura e na sua aplicação à literatura bíblica, é um livro de «teologia política». Com efeito, fala em alguns momentos de «sabedoria», mas centra-se mais na ideia de «justiça» aplicada tanto à história, como aos seres humanos, como a Deus. O texto proposto para primeira leitura do décimo sexto domingo (Ano A) faz parte de uma «passagem» da história do povo de Israel: Como se comportou Deus com os inimigos do povo? Castigou-os sem piedade? O primeiro versículo recorda a fé monoteísta: não há outro Deus fora de Israel; Ele é o criador, cuidador providente de toda a sua obra, governa-a com justiça.
O texto na história da salvação. O autor do livro olha toda a história do povo e vê como o ser humano com frequência cai no abuso do poder, ao passo que Deus não precisa da violência para fazer valer a sua autoridade. Uns capítulos antes, o escritor sagrado tinha falado da «forma de agir» dos ímpios (Sabedoria 2, 11a), que têm como norma a «força», que é violência atropeladora dos mais débeis, demonstrando como isso a sua prepotência e cobardia. Deus, contudo, perdoa a todos porque é verdadeiramente poderoso. O texto diz: «Agindo deste modo... (isto é, com o castigo moderado e paulatino dos cananeus e com o governo indulgente dos israelitas) ensinastes ao vosso povo...». Deus é como um mestre que conduz, guia, adverte e corrige com autoridade e mansidão, ao mesmo tempo; e assim faz justiça.
Palavra de Deus para nós: sentido e celebração litúrgica. A forma ordinária de Deus ensinar é a sua ação na história. A mansidão com que Deus tratou os inimigos do seu povo é uma lição de autoridade sem violência; de poder sem humilhação; de justiça sem vítimas. O ser humano justo deve ser humano, amigo de todos os humanos, como o é o próprio Deus. Justiça e misericórdia fazem parte do Deus que se revela na Bíblia.
© Pedro Fraile Yécora, Homiletica