PREPARAR O DOMINGO OITAVO
2 DE MARÇO DE 2014
Isaías 49, 14-15
Sião dizia: «O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-Se de mim». Poderá a mulher esquecer a criança que amamenta e não ter compaixão do filho das suas entranhas? Mas ainda que ela se esquecesse, Eu não te esquecerei.
O Senhor esqueceu-se de mim
O texto no seu contexto. O texto do Segundo Isaías, no seu contexto histórico imediato, personifica a cidade de Sião depois da destruição da cidade, do Templo e depois do desterro. O povo não entendeu que a destruição e o exílio tinham sido consequência dos seus caminhos de repetidas injustiças e das suas alianças com os povos estrangeiros, mas interpretou a desgraça como um «esquecimento». O poeta joga com este verbo: Sião diz «esqueceu-Se de mim»; Deus diz «não te esquecerei». A imagem que o poeta usa (a mãe com o seu filho) é muito recorrente ao longo de toda a Bíblia. O profeta tampouco diz «Jerusalém», que corresponde muito mais à capital política, mas fala de «Sião», a mesma cidade contemplada a partir das suas promessas de eleição e de salvação por parte de Deus. Estamos perante um oráculo de esperança, de olhar para o futuro, de colocar a confiança em Deus.
O texto na história da salvação. O verbo «esquecer» não aparece com frequência na Bíblia; mas aparece muito o seu correspondente antónimo «recordar». Deus «recorda-se» continuamente do seu povo; todavia não o faz como um exercício de memória, mas para agir em favor dele. A «recordação» de Deus não tem um carácter negativo, punitivo, rancoroso, mas totalmente ao contrário: Deus recorda as promessas feitas aos patriarcas, recorda a aliança, recorda a promessa feita ao rei David; e, por recorda as suas palavras, Deus salva.
Palavra de Deus para nós: sentido e celebração litúrgica. Com frequência o ser humano sente-se só, desamparado: alguém se lembra de mim?; sou importante para alguém?; alguém se importa comigo? O texto de Isaías, embora se refira à cidade de Jerusalém, contemplada a partir da sua condição de «cidade das promessas» e de cidade onde reside a «glória de Deus», estende-se a qualquer crente. Se uma mãe humana não se pode esquecer do filho que criou, como é que Deus o poderia fazer?
© Pedro Fraile Yécora, Homiletica









