PREPARAR O DOMINGO DO BATISMO DE JESUS
12 DE JANEIRO DE 2014
Isaías 42, 1-4.6-7
Diz o Senhor: «Eis o meu servo, a quem Eu protejo, o meu eleito, enlevo da minha alma. Sobre ele fiz repousar o meu espírito, para que leve a justiça às nações. Não gritará, nem levantará a voz, nem se fará ouvir nas praças; não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega: proclamará fielmente a justiça. Não desfalecerá nem desistirá, enquanto não estabelecer a justiça na terra, a doutrina que as ilhas longínquas esperam. Fui Eu, o Senhor, que te chamei segundo a justiça; tomei-te pela mão, formei-te e fiz de ti a aliança do povo e a luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirares do cárcere os prisioneiros e da prisão os que habitam nas trevas».
A salvação de Deus passa pelo inesperado e pelo supreendente
O texto no seu contexto. No coração da segunda parte do livro do profeta Isaías (capítulos 40 a 55), também conhecida como «Dêutero-Isaías» ou «Livro da Consolação», o profeta apresenta um personagem, ao mesmo tempo, misterioso e sugestivo: os «Cânticos do Servo de Yahveh» — a leitura deste domingo é retirada do primeiro cântico. Aparentemente, não se relaciona com o resto da obra, uma vez que o conteúdo do Dêutero-Isaías fala do convite a sair da Babilónia e a pôr-se a caminho em direção a Jerusalém. Como integrar neste contexto os poemas de um personagem que carrega sobre os seus ombros as culpas alheias? Isaías trabalha o contraste entre duas formas de salvação: a temporal, concedida por Ciro, o rei da Pérsia; a perpétua, concedida pelo Servo de Yahveh. O texto forma uma unidade composta de duas partes bem definidas. Nos primeiros versículos, Deus apresenta o seu servo (versículos 1 a 4); na segunda parte, apresenta a missão do servo (versículos 6 a 7). Deus escolheu-o e ampara-o. À eleição segue-se a investidura do servo e a missão que lhe é confiada: implantar o direito segundo a vontade de Deus. A novidade reflete-se em não levar a cabo a sua tarefa usando a força ou as armas, mas usando de mansidão com o débil e o vacilante, ao mesmo tempo que será firme e determinado em cumprir o mandato. O âmbito em que se move é universal. A missão do servo está ligada à visão (devolver a vista), à libertação (de todo o tipo de cativeiro) e à esperança (recuperar a luz em cada momento da vida).
O texto na história da salvação. A figura do Servo tem sido em toda a história da exegese e da teologia um verdadeiro enigma. De quem fala o profeta? A Igreja, desde os primeiros tempos, viu no Servo uma prefiguração de Cristo. É o próprio Deus que fala para nos apresentar um personagem sobre o qual derramou o seu Espírito. A sua missão é universal, a todas as nações, ultrapassando de novo a estreiteza das identidades raquíticas; o seu encargo não é de esmagar como fazem os tanques, nem de submeter como os que usam as leis implacáveis; a sua tarefa é não apagar «a torcida que ainda fumega» e abrir «os olhos aos cegos».
Palavra de Deus para nós: sentido e celebração litúrgica. A figura do Servo compreende-se melhor como contraposição ao modo como o mundo pretende oferecer a salvação: estruturas de poder que se impõem, recurso à violência, injustiças claras que ninguém se atreve a denunciar; o uso da mentira e da confusão como armas legais. Isaías diz-nos: Deus salva; sim, mas através do Servo. O Servo entrega-se a si mesmo para que toda a humanidade sofredora alcance a graça e a paz. O Servo de Yahveh é o eleito de Deus: o próprio tomou-o pela mão. A salvação de Deus, uma vez mais, não segue os caminhos apontados pelos humanos, mas tem o seu próprio caminho, que passa pelo inesperado e pelo surpreendente.
© Pedro Fraile Yécora, Homiletica