PREPARAR O DOMINGO DA SAGRADA FAMÍLIA
29 DE DEZEMBRO DE 2013
É normal que a festa da Sagrada Família, instituída mais tarde, esteja situada dentro do ciclo natalício. Nela, contemplamos, a família de Jesus errante pelos caminhos da Palestina por razões administrativas, com situações precárias, inseguras. Uma família como tantas outras. Nela, descobrimos a verdade da Incarnação, a verdade humana de Jesus: quando vem viver entre nós, Deus escolhe uma família parecida com as outras. É um sinal de confiança e, ao mesmo tempo, um convite a pedir para todas as nossas famílias a bênção de Deus, que abençoou a família humana fazendo-a habitáculo humano do seu Filho. Nestes dias, celebramos o mesmo mistério: Deus fez-se humano e habitou entre nós.
Uma imagem da família
Ben-Sirá, um judeu que pertencia à classe intelectual, apresenta a sua visão da família, marcada necessariamente pela cultura do seu tempo, uma imagem muito difundida em todo o Oriente, embora Israel a integre no Decálogo: os deveres dos filhos para com os pais não são de ordem moral, mas um elemento religioso que assegura a continuidade da tradição, tão importante na fé judaica. Para um judeu, a garantia de uma vida sã é medida pelo respeito que tem aos seus pais quando são anciãos e pelo seguimento humilde dos seus conselhos.
© Lluis Prat, Misa dominical
© tradução e adaptação de Laboratório da fé, 2013
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Na sociedade patriarcal israelita, a figura dos pais possui grande prestígio. O quarto mandamento insiste nessa mesma linha: honrar os progenitores. Não faltam, no Antigo Testamento, exemplos típicos de pais solícitos e mães dedicadas. A isto devemos unir a importância que tem, nas sociedades semíticas antigas, a autoridade dos mais velhos. A velhice não é sinal de caducidade, mas de maturidade, de sensatez. Dos anciãos, escutam-se conselhos; o sábio chama ao seu discípulo de «meu filho». Antropologicamente, trata-se de uma sociedade que precisa da figura dos pais e da unidade familiar para ser forte; teologicamente, embora não se tenha chegado ainda à crença numa vida para além da morte, o povo de Israel acredita firmemente que Deus premeia na vida a bondade do filho para com o pai, da mesma forma que castiga o descuido ou a crueldade para com os progenitores. Não se pode transpor literalmente os esquemas de uma instituição para outra (as famílias mudaram muito desde essa época), mas pode-se manter o conselho bíblico da honra, do respeito, do amor devido aos progenitores. Não só como dever moral, mas também como atitude religiosa que reconhece e respeita aqueles que foram escolhidos por Deus para gerar e sustentar a vida humana.