PREPARAR O DOMINGO TRIGÉSIMO TERCEIRO
No último «Encontros com a Palavra», comentamos como a vida é o lugar privilegiado no qual se revela o rosto de Deus. O Senhor não é Deus de mortos, mas de vivos... e é na vida que nos comunica o seu projeto. Portanto, os cristãos não temos que consultar, como os gregos, o oráculo dos deuses, ou, como os assírios, as estrelas (astrologia), ou ler a mão, etc. Para saber o que Deus quer da nossa vida pessoal, comunitária ou social, só temos que abrir os olhos e ver... Não negar a realidade, não atraiçoá-la ou mentir sobre ela. Não ser como a avestruz que pensa que por deixar de ver a realidade, metendo a cabeça na areia, fará desaparecer o caçador. Não se trata, pois, de difíceis hieróglifos ou adivinhações; é simples; mas, às vezes, as coisas são tão simples, que não as vemos; são tão simples e tão quotidianas, que não lhes prestamos atenção; por isso, é fundamental ter olhos limpos para olhar a realidade sem medo. Por alguma razão Jesus, num momento de inspiração e «cheio do Espírito Santo, disse: 'Louvo-te Pai, Senhor do céu e da terra, porque mostraste aos simples as coisas que escondes aos sábios e entendidos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado» (Lucas 10, 21).
Esta foi a atitude fundamental de Jesus. Ter os olhos abertos diante da realidade, perante as coisas simples de cada dia, nas quais descobria os planos do seu Pai, Deus. Jesus aprendeu o que aprendeu sobre o Reino de Deus, olhando a sua vida e a vida do seu povo. A partir unicamente do Evangelho de São Mateus podemos chegar a uma lista como esta: Jesus fala de pão, sal, luz, lâmpadas, caixotes, traças, ladrões, aves, celeiros, flores, erva, palha, traves, troncos, cães, pérolas, porcos, pedras, cobras, peixes, portas, caminhos, ovelhas, uvas, espinhos, figos, cardos, fogo, casas, rochas, areia, chuva, rios, ventos, prostitutas, tocas, aves, ninhos, médicos, doentes, bodas, vestidos, telas, remendos, vinho, couros, odres, colheitas, trabalhadores, ouro, prata, cobre, bolsa, roupa, sandálias, bastões, pó, pés, lobos, serpentes, pombas, terraços, passarinhos, moedas, cabelos, árvores, frutos, víboras, semeador, semente, sol, raiz, grãos, ouvidos, joio, trigo, grãos, mostarda, horto, plantas, ramos, fermento, farinha, massa, tesouros, comerciantes, redes, mar, praias, cestas, fornos, boca, planta, raiz, cegos, buracos, ventre, céu, crianças, pedra de moinho, mão, pé, maneta, coxo, reis, funcionários, escravos, prisões, camelos, agulhas, vinhas, cebes, torres, lagar, terreno, lavradores, festas, convidados, criados, animais, hortelã, anis, cominhos, mosquitos, copos, pratos, sepulcros, galinhas, pintos, figueiras, virgens, azeite, dinheiro, banco, pastor, cabras... E por aí adiante.
Nestes elementos tão simples, Jesus descobriu o que Deus lhe pedia e o que Deus queria fazer com ele e com toda a humanidade. Não se trata de ver coisas distintas, novas, mas de olhar o mesmo, mas com uns olhos novos: «Mas Yahveh disse a Samuel: [...] O olhar de Deus não é como o humano, pois o ser humano vê as aparências, mas Yahveh vê o coração (1Samuel 16, 7). Esta maneira de ver é característica dos profetas; um olhar que não é propriamente o do turista. Esta é a resposta para a pergunta que fazem ao Senhor no evangelho do trigésimo terceiro domingo (Ano C): «Que sinal haverá de que está para acontecer?». Estão aí. Só temos que abrir os olhos e ver...
© Hermann Rodríguez Osorio, SJ
© Encuentros com la Palabra — blogue de Hermann Rodríguez Osorio
© tradução e adaptação de Laboratório da fé, 2013
A utilização ou publicação deste texto precisa da prévia autorização do autor
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