A porta da fé [13]


Estamos a três semanas de concluir o Ano da Fé, que se iniciou em outubro de 2012 e terminará em novembro de 2013. Semanalmente, apresentamos um número da Carta Apostólica do papa Bento XVI com a qual proclamou o Ano da Fé — «A porta da fé» («Porta Fidei»). E juntamos uma proposta de reflexão elaborada por Pedro Jaramillo. O objetivo é dar um contributo para uma avaliação mais cuidada sobre a forma como estamos a viver o Ano da Fé. Bom proveito!

Será decisivo repassar, durante este Ano, a história da nossa fé, que faz ver o mistério insondável da santidade entrelaçada com o pecado. Enquanto a primeira põe em evidência a grande contribuição que homens e mulheres prestaram para o crescimento e o progresso da comunidade com o testemunho da sua vida, o segundo deve provocar em todos uma sincera e contínua obra de conversão para experimentar a misericórdia do Pai, que vem ao encontro de todos.
Ao longo deste tempo, manteremos o olhar fixo sobre Jesus Cristo, «autor e consumador da fé» (Hebreus 12, 2): n’Ele encontra plena realização toda a ânsia e desejo do coração humano. A alegria do amor, a resposta ao drama da tribulação e do sofrimento, a força do perdão face à ofensa recebida e a vitória da vida sobre o vazio da morte, tudo isto encontra plena realização no mistério da sua Encarnação, do seu fazer-Se homem, do partilhar connosco a fragilidade humana para a transformar com a força da sua ressurreição. N’Ele, morto e ressuscitado para a nossa salvação, encontram plena luz os exemplos de fé que marcaram estes dois mil anos da nossa história de salvação.
Pela fé, Maria acolheu a palavra do Anjo e acreditou no anúncio de que seria Mãe de Deus na obediência da sua dedicação (cf. Lucas 1, 38). Ao visitar Isabel, elevou o seu cântico de louvor ao Altíssimo pelas maravilhas que realizava em quantos a Ele se confiavam (cf. Lucas 1, 46-55). Com alegria e trepidação, deu à luz o seu Filho unigénito, mantendo intacta a sua virgindade (cf. Lucas 2, 6-7). Confiando em José, seu Esposo, levou Jesus para o Egipto a fim de O salvar da perseguição de Herodes (cf. Mateus 2, 13-15). Com a mesma fé, seguiu o Senhor na sua pregação e permaneceu a seu lado mesmo no Gólgota (cf. João 19, 25-27). Com fé, Maria saboreou os frutos da ressurreição de Jesus e, conservando no coração a memória de tudo (cf. Lucas 2, 19.51), transmitiu-a aos Doze reunidos com Ela no Cenáculo para receberem o Espírito Santo (cf. Atos 1, 14; 2, 1-4).
Pela fé, os Apóstolos deixaram tudo para seguir o Mestre (cf. Marcos 10, 28). Acreditaram nas palavras com que Ele anunciava o Reino de Deus presente e realizado na sua Pessoa (cf. Lucas 11, 20). Viveram em comunhão de vida com Jesus, que os instruía com a sua doutrina, deixando-lhes uma nova regra de vida pela qual haveriam de ser reconhecidos como seus discípulos depois da morte d’Ele (cf. João 13, 34-35). Pela fé, foram pelo mundo inteiro, obedecendo ao mandato de levar o Evangelho a toda a criatura (cf. Marcos 16, 15) e, sem temor algum, anunciaram a todos a alegria da ressurreição, de que foram fiéis testemunhas.
Pela fé, os discípulos formaram a primeira comunidade reunida à volta do ensino dos Apóstolos, na oração, na celebração da Eucaristia, pondo em comum aquilo que possuíam para acudir às necessidades dos irmãos (cf. Atos 2, 42-47).
Pela fé, os mártires deram a sua vida para testemunhar a verdade do Evangelho que os transformara, tornando-os capazes de chegar até ao dom maior do amor com o perdão dos seus próprios perseguidores.
Pela fé, homens e mulheres consagraram a sua vida a Cristo, deixando tudo para viver em simplicidade evangélica a obediência, a pobreza e a castidade, sinais concretos de quem aguarda o Senhor, que não tarda a vir. Pela fé, muitos cristãos se fizeram promotores de uma ação em prol da justiça, para tornar palpável a palavra do Senhor, que veio anunciar a libertação da opressão e um ano de graça para todos (cf. Lucas 4, 18-19).
Pela fé, no decurso dos séculos, homens e mulheres de todas as idades, cujo nome está escrito no Livro da vida (cf. Apocalipse 7, 9; 13, 8), confessaram a beleza de seguir o Senhor Jesus nos lugares onde eram chamados a dar testemunho do seu ser cristão: na família, na profissão, na vida pública, no exercício dos carismas e ministérios a que foram chamados.
Pela fé, vivemos também nós, reconhecendo o Senhor Jesus vivo e presente na nossa vida e na história.

A porta da fé [Carta Apostólica para o Ano da Fé - «Porta Fidei»]

  • A porta da fé — números publicados no Laboratório da fé > > >



Aspetos que se podem sublinhar

  • Percorrer a história da nossa fé. Nela, entrecruzam-se a santidad e o pecado. A santidade estimula o compromisso de vida. Diante do pecado, temos de ter um sincero ato de conversão.
  • O olhar volta-se para Jesus Cristo, «autor e consumador da fé»: n'Ele encontra cumprimento todo o anseio do coração humano. Ele partilhou a nossa debilidade (Incarnação). E essa debilidade foi glorificada (Ressurreição).
  • A partir de Jesus Cristo são iluminados plenamente os exemplos de fé: — a fé de Maria, em todos os momentos do seu acompanhamento de Jesus e do nascimento da Igreja; — dos Apóstolos, chamados, seguidores, testemunhas, missionário; — dos Discípulos, construtores das primeiras comunidades cristãs, dando testemunho do amor e da comunhão de bens; — dos Mártires, testemunhas privilegiadas da verdade do Evangelho; — dos Consagrados(as), pela radicalidade da entrega; — de muitos cristãos comprometidos na promoção da justiça, levando a Palavra à vida, tornando-se, em Jesus, libertação para os oprimidos; — da multidão de homens e mulheres, com o testemunho da sua vida na família, na profissão, na vida pública e no desempenho dos carismas e ministérios que lhes foram confiados...
  • Nós: também vivemos pela fé, reconhecemos Jesus presente na nossa vida e na história. Somos, por graça, um elo dessa formosa cadeia de transmissão.

Interiorizando

  • Penso na minha diocese, na minha paróquia, no meu movimento, na minha comunidade, na minha associação... com o realismo de quem sabe descobrir a graça e o pecado. Agradecemos ao Senhor todo o bem e pedimos-lhe que nos ajude a «converter-nos» do mal, do pecado, que também penetra no coração das nossas instituições. Fazemos uma sã e cristã avaliação.

  • Repassamos a história da fé e sentimos um forte estímulo para continuar nas nossas vidas concretas a história das testemunhas. Temos e tivemos muitas; muitas delas chegaram ao martírio. Estimulam-nos a ser continuadores da fé que moveu as suas vidas.

  • Consideramos a importância que tem ser um elo dessa cadeia de testemunhas da fé. Importância e responsabilidade. Não podemos interromper, com a nossa preguiça ou falta de compromisso, a corrente da fé que é chamada sempre a crescer. Entristecemo-nos quando essa corrente, pela nossa falta de entusiasmo crente, se vai convertendo tantas vezes num fiozinho de água, que não rega nem fecunda a nossa história, ficando apenas no interior dos nossos templos.

© Pedro Jaramillo
© Tradução e adaptação de Laboratório da fé, 2013

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Bento XVI, Carta Apostólica «A porta da fé»
Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 7.11.13 | Sem comentários
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