Ao ritmo da liturgia


Vigésima quinta semana


Não somos donos, mas administradores

É muito fácil escrever ou falar sobre o divino e sobre o humano. Mas, quando nos mexem no bolso, o assunto é outro!
Parece que Jesus Cristo estava convencido de que o dinheiro e Deus são incompatíveis. Seria apenas pelo facto de ser pobre, pertencer a uma família pobre? Ou seria porque tinha inveja dos ricos?
A história da Igreja demonstra (pelo menos, tenta demonstrar) que não existe assim tanta incompatibilidade entre Deus e o dinheiro. Basta pensar nas riquezas e nos poderes que, ao longo do tempo, foram possuídos pelos responsáveis hierárquicos ou pelas instituições eclesiásticas.
Há razões para dizer que Deus e o dinheiro são incompatíveis? Não pode haver ricos que sejam bons cristãos? Não se pode ter dinheiro sem ser automaticamente seu escravo? E não há pobres invejosos e egoístas? Não queremos todos ser ricos?
Pois, parece mesmo que Jesus Cristo estava convencido de que o dinheiro e Deus são incompatíveis! Não entendemos. Ou não queremos entender.
Na verdade, servir a Deus e ao dinheiro são duas formas de vida contraditórias. É como estar casado e solteiro ao mesmo tempo. É possível? Há quem pense que sim. Também em relação a Deus e ao dinheiro!
O que significa viver para Deus? Estar a favor da vida, cuidar de todos; apreciar as pessoas por aquilo que são, respeitar a dignidade da pessoa humana; pautar as relações pessoais pelo amor e pela confiança; ser generoso no pouco e em tudo; viver com confiança; ter tempo para si e para os outros; deixar-se surpreender pela novidade; ser otimista; saborear a vida. 
O que significa viver para o dinheiro? Estar a favor dos privilégios, onde uns são mais importantes do que os outros; apreciar as pessoas pelos seus bens, respeitar apenas os poderosos; pautar as relações pessoais pelo interesse, pelo proveito próprio; ser avaro no muito e em tudo; viver com desconfiança; ter tempo apenas para si mesmo; agarrar-se apenas ao que é seguro; ser pessimista; consumir a vida.
As riquezas merecem bem o seu nome (DOMINGO: «Arranjai amigos com o vil dinheiro»). Seria estúpido e hipócrita dizer que não estamos interessados no dinheiro (SEGUNDA: Não há nada oculto que não se torne manifesto»). O dinheiro, queiramos ou não, é necessário para viver. Isto é uma realidade inevitável. Mas não é preciso que o dinheiro seja uma prioridade na nossa vida (TERÇA: «Ouvem a palavra de Deus e a põem em prática»). Isso não! Somos convidados a não ser escravos do dinheiro (QUARTA: «Não leveis nada para o caminho»). O que está em causa é querermos ser donos exclusivos do dinheiro (QUINTA: «Andava perplexo»), usando-o apenas para proveito próprio. Jesus Cristo diz-nos que não somos donos, mas administradores. Deus confia em nós. Somos administradores, responsáveis pelo dinheiro que nos é confiado (SEXTA: «Quem dizem as multidões que Eu sou?»). Todas as nossas riquezas — monetárias ou outras — são-nos confiadas, como a administradores (SÁBADO: «Escutai bem»), para as partilharmos, para as transformarmos em felicidade, usando-as em benefícios dos outros.

Esta semana somos convidados a colocar a questão sobre a nossa relação com o dinheiro. Vivo para Deus ou para o dinheiro? Dedicar a vida a «fazer dinheiro» — como se costuma dizer — é errar o caminho. Quando se está obcecado em ganhar dinheiro, depressa nos tornamos escravos. Deixamos de ter tempo para pensar noutra coisa. Esquecemo-nos de Deus e dos outros. Ora, é na «escravidão» e no «esquecimento» que está o problema!

A elaboração deste texto foi inspirada na obra de José Luis Cortés, El ciclo C, Herder Editorial e nos textos publicados neste «Laboratório da fé» a propósito do vigésimo quinto domingo.

© Laboratório da fé, 2013

Vigésima quinta semana, no Laboratório da fé, 2013
Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 22.9.13 | Sem comentários
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