Encuentros con la Palabra — blogue de Hermann Rodríguez Osorio
Quando o João, no primeiro dia de cada mês, recebeu o seu salário, em dinheiro, como sempre fez, contou cuidadosamente as notas, uma a uma, arregalando os olhos e molhando o dedo com saliva para separar as notas. Ficou surpreendido ao perceber que lhe tinham dado mais 50 euros do que o habitual. Olhou à sua volta para ver se alguém tinha reparado, assinou rapidamente o recibo, guardou o dinheiro no bolso e saiu dali com a maior rapidez e discrição possíveis, controlando, com esforço, o seu desejo de saltar de alegria. Tudo ficou assim. No primeiro dia do mês seguinte, foi para a fila e estendeu a mão para receber o pagamento. Repetiu-se a rotina; e, ao contar as notas, notou que faltavam 50 euros. Levantou a cabeça e cravou o olhar no administrador; muito sério, disse-lhe: — «Senhor, desculpe, mas faltam 50 euros». O administrador respondeu-lhe: — «Não se lembra que, no mês passado, lhe demos 50 euros a mais e você não disse nada?». — «Sim, claro — contestou João com segurança —, é que um erro pode-se perdoar, mas dois é demais».
Esta cena, pouco comum, veio-me à memória ao ler o texto evangélico do vigésimo quinto domingo (Ano C): «Os filhos deste mundo são mais espertos do que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes». Esta é a conclusão tirada por Jesus Cristo, depois de ter contado a história do administrador que estava a desbaratar os bens do seu senhor. E mais adiante dirá: «Quem é fiel nas coisas pequenas também é fiel nas grandes; e quem é injusto nas coisas pequenas também é injusto nas grandes». A honestidade é uma virtude que apreciamos muito nos outros, mas nem sempre sabemos praticar nas nossas próprias vidas. Apercebemo-nos facilmente quando os outros não se comportam como deviam, mas não somos capazes de reconhecer as nossas próprias incoerências. Já dizia o Senhor que temos uma capacidade infinita de reconhecer o argueiro que está no olho do nosso vizinho, mas não somos capazes de ver a trave que temos no nosso (cf. Mateus 7, 3-5; Lucas 6, 41-42). Somos assim, embora nos custe reconhecê-lo.
Mas a coisa não fica por aqui. O que o Senhor quer ensinar-nos com esta história é que temos que utilizar adequadamente os bens deste mundo, para alcançar uma vida plena: «Se não fostes fiéis no que se refere ao vil dinheiro, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não fostes fiéis no bem alheio, quem vos entregará o que é vosso?». Neste sentido, não podemos esquecer que os bens deste mundo são apenas um meio para alcançar a vida verdadeira que nos aponta o sumo e verdadeiro capitão, de que fala Santo Inácio numa das meditações mais conhecidas dos «Exercícios Espirituais» (cf. EE 139).
«Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque, ou não gosta de um deles e estima o outro, ou se dedica a um e despreza o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» — dirá o Senhor mais adiante. Valeria a pena perguntar-nos se temos o nosso coração dividido entre o serviço a Deus e o serviço que prestamos aos bens. Se nos servimos das riquezas para construir essa vida verdadeira à qual somos chamados por Deus ou se somos como o homem da história, que cala ou reclama, conforme o que mais lhe convém...
Quando o João, no primeiro dia de cada mês, recebeu o seu salário, em dinheiro, como sempre fez, contou cuidadosamente as notas, uma a uma, arregalando os olhos e molhando o dedo com saliva para separar as notas. Ficou surpreendido ao perceber que lhe tinham dado mais 50 euros do que o habitual. Olhou à sua volta para ver se alguém tinha reparado, assinou rapidamente o recibo, guardou o dinheiro no bolso e saiu dali com a maior rapidez e discrição possíveis, controlando, com esforço, o seu desejo de saltar de alegria. Tudo ficou assim. No primeiro dia do mês seguinte, foi para a fila e estendeu a mão para receber o pagamento. Repetiu-se a rotina; e, ao contar as notas, notou que faltavam 50 euros. Levantou a cabeça e cravou o olhar no administrador; muito sério, disse-lhe: — «Senhor, desculpe, mas faltam 50 euros». O administrador respondeu-lhe: — «Não se lembra que, no mês passado, lhe demos 50 euros a mais e você não disse nada?». — «Sim, claro — contestou João com segurança —, é que um erro pode-se perdoar, mas dois é demais».
Esta cena, pouco comum, veio-me à memória ao ler o texto evangélico do vigésimo quinto domingo (Ano C): «Os filhos deste mundo são mais espertos do que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes». Esta é a conclusão tirada por Jesus Cristo, depois de ter contado a história do administrador que estava a desbaratar os bens do seu senhor. E mais adiante dirá: «Quem é fiel nas coisas pequenas também é fiel nas grandes; e quem é injusto nas coisas pequenas também é injusto nas grandes». A honestidade é uma virtude que apreciamos muito nos outros, mas nem sempre sabemos praticar nas nossas próprias vidas. Apercebemo-nos facilmente quando os outros não se comportam como deviam, mas não somos capazes de reconhecer as nossas próprias incoerências. Já dizia o Senhor que temos uma capacidade infinita de reconhecer o argueiro que está no olho do nosso vizinho, mas não somos capazes de ver a trave que temos no nosso (cf. Mateus 7, 3-5; Lucas 6, 41-42). Somos assim, embora nos custe reconhecê-lo.
Mas a coisa não fica por aqui. O que o Senhor quer ensinar-nos com esta história é que temos que utilizar adequadamente os bens deste mundo, para alcançar uma vida plena: «Se não fostes fiéis no que se refere ao vil dinheiro, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não fostes fiéis no bem alheio, quem vos entregará o que é vosso?». Neste sentido, não podemos esquecer que os bens deste mundo são apenas um meio para alcançar a vida verdadeira que nos aponta o sumo e verdadeiro capitão, de que fala Santo Inácio numa das meditações mais conhecidas dos «Exercícios Espirituais» (cf. EE 139).
«Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque, ou não gosta de um deles e estima o outro, ou se dedica a um e despreza o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» — dirá o Senhor mais adiante. Valeria a pena perguntar-nos se temos o nosso coração dividido entre o serviço a Deus e o serviço que prestamos aos bens. Se nos servimos das riquezas para construir essa vida verdadeira à qual somos chamados por Deus ou se somos como o homem da história, que cala ou reclama, conforme o que mais lhe convém...