Carta encíclica sobre a fé [39]
É impossível acreditar sozinhos. A fé não é só uma opção individual que se realiza na interioridade do crente, não é uma relação isolada entre o «eu» do fiel e o «Tu» divino, entre o sujeito autónomo e Deus; mas, por sua natureza, abre-se ao «nós», verifica-se sempre dentro da comunhão da Igreja. Assim no-lo recorda a forma dialogada do Credo, que se usa na liturgia batismal. O crer exprime-se como resposta a um convite, a uma palavra que não provém de mim, mas deve ser escutada; por isso, insere-se no interior de um diálogo, não pode ser uma mera confissão que nasce do indivíduo: só é possível responder «creio» em primeira pessoa, porque se pertence a uma comunhão grande, dizendo também «cremos». Esta abertura ao «nós» eclesial realiza-se de acordo com a abertura própria do amor de Deus, que não é apenas relação entre o Pai e o Filho, entre «eu» e «tu», mas, no Espírito, é também um «nós», uma comunhão de pessoas. Por isso mesmo, quem crê nunca está sozinho; e, pela mesma razão, a fé tende a difundir-se, a convidar outros para a sua alegria. Quem recebe a fé, descobre que os espaços do próprio «eu» se alargam, gerando-se nele novas relações que enriquecem a vida. Assim o exprimiu vigorosamente Tertuliano ao dizer do catecúmeno que, tendo sido recebido numa nova família «depois do banho do novo nascimento», é acolhido na casa da Mãe para erguer as mãos e rezar, juntamente com os irmãos, o Pai Nosso [34].
[34] Cf. De Baptismo, 20, 5: CCL 1, 295
A luz da fé [Carta Encíclica sobre a fé - «Lumen Fidei»]
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- É impossível acreditar sozinhos
- A fé não é só uma opção individual
- A fé não é uma relação isolada entre o «eu» e o «Tu»
- A fé abre-se ao «nós», na comunhão da Igreja
- O crer exprime-se como resposta a um convite
- O crer não pode ser uma mera confissão que nasce do indivíduo
- O crer insere-se no interior de um diálogo
- Só é possível dizer «creio» inserido num «cremos»
- Deus é relação pessoal, um «nós»
- A fé tende a difundir-se
- A fé tende a convidar outros para a sua alegria
- A fé alarga os horizontes individuais
- A fé gera novas relações que enriquecem a vida
- É impossível acreditar sozinhos?
- Que sentido tem dizer: «eu tenho a minha fé»?
- Pode-se viver a fé apenas numa relação individual com Deus?
- É possível dizer «creio» (individual) sem estar inserido num «cremos» (comum)?
- A fé isola o indivíduo ou abre horizontes?
© Laboratório da fé, 2013