Carta encíclica sobre a fé [2]
E contudo podemos ouvir a objeção que se levanta de muitos dos nossos contemporâneos, quando se lhes fala desta luz da fé. Nos tempos modernos, pensou-se que tal luz poderia ter sido suficiente para as sociedades antigas, mas não servia para os novos tempos, para o ser humano tornado adulto, orgulhoso da sua razão, desejoso de explorar de forma nova o futuro. Nesta perspectiva, a fé aparecia como uma luz ilusória, que impedia o humano de cultivar a ousadia do saber. O jovem Nietzsche convidava a irmã Elisabeth a arriscar, «percorrendo vias novas […], na incerteza de proceder de forma autónoma». E acrescentava: «Neste ponto, separam-se os caminhos da humanidade: se queres alcançar a paz da alma e a felicidade, contenta-te com a fé; mas, se queres ser uma discípula da verdade, então investiga» [3]. O crer opor-se-ia ao indagar. Partindo daqui, Nietzsche desenvolverá a sua crítica ao cristianismo por ter diminuído o alcance da existência humana, espoliando a vida de novidade e aventura. Neste caso, a fé seria uma espécie de ilusão de luz, que impede o nosso caminho de homens e mulheres livres rumo ao amanhã.
[3] «Brief an Elisabeth Nietzsche (11 de Junho de 1865)», in: Werke in drei Bänden (Munique 1954), 953-954
A luz da fé [Carta Encíclica sobre a fé - «Lumen Fidei»]
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Refletir... saborear
- O mundo moderno recusa a luz da fé
- Vários filósofos, entre os quais Nietzsche, opõem a fé à razão, ao conhecimento, à ciência
- Para eles, a procura da verdade é incompatível com a fé
- De que lado estou: do lado da fé, do lado da razão, em ambos os lados?
- Para mim, a fé é uma diminuição do humano, uma «ilusão» que impede a novidade e a procura da verdade?
- Estou preparado para dialogar com os «críticos» da fé?
© Laboratório da fé, 2013