As «chaves» do Concílio


Lumen Gentium — Constituição Dogmática sobre a Igreja


Recebei aquilo que sois
A eclesiologia eucarística do Concílio Vaticano II regressa às raízes da tradição cristã para fundamentar a nossa compreensão da interdependência dinâmica entre a Igreja e a Eucaristia. Como vimos, os escritos de São Paulo sublinham a ligação inseparável entre a comunhão que celebramos na Eucaristia e a unidade da Igreja. De Lubac ajudou-nos a ver que, durante todo o primeiro milénio, a teologia cristã foi marcada pela ideia de que a Eucaristia faz a Igreja, enquanto, no segundo milénio, foi mais realçada a forma como a Igreja faz a Eucaristia. O ensinamento do Concílio Vaticano II reflete um apreço profundo pela Eucaristia como fonte da vida, da oração e da missão da Igreja.
A Igreja realiza-se plenamente cada vez que se reúne para celebrar o memorial da morte e ressurreição de Cristo. O Concílio deve ser creditado pela recuperação das antigas convicções relativas à relação profunda entre a Eucaristia e a Igreja, afirmadas com tanta insistência por Santo Agostinho. Estas estão bem resumidas nas reflexões por ele dirigidas aos membros recém-batizados da sua Igreja sobre o significado da sua participação na Ceia do Senhor:
Assim, se vós sois o Corpo de Cristo e os seus membros, o mistério que encerra aquilo que significais foi colocado sobre a mesa do Senhor; aquilo que recebeis é o mistério que sois vós. É àquilo que sois que respondeis «Ámen», e, respondendo assim, dais o vosso assentimento. Aquilo que ouvis e que vedes é o Corpo de Cristo, e respondeis Ámen. Então, sede membro do Corpo de Cristo, para que esse Ámen seja verdadeiro... Sede aquilo que vedes e recebei aquilo que sois.
Para tornar verdadeiro o nosso «Ámen» ao mistério de Cristo na Eucaristia, as nossas vidas devem tornar-se um reflexo do seu amor de autodoação. É isso que realmente significa ser membro do Corpo. Na celebração do mistério pascal de Cristo, o povo santo de Deus é conduzido da escravidão do pecado e da morte à vida nova e à ressurreição. O amor derramado por Deus em Cristo constitui a base de uma nova humanidade marcada por uma nova forma de viver comum. Como a «Lumen Gentium» afirma, «a participação no corpo e no sangue de Cristo não tem outro efeito senão realizar a nossa transformação naquilo que recebemos» (LG 26). Somos enviados a partir da Eucaristia, onde encontramos e recebemos o amor curativo e reconciliardor de Deus, para sermos pão partido e vinho derramado pelos outros.

© Richard R. Gaillardetz - Catherine E. Clifford
© Paulinas Editora, 2012
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Catherine E. Clifford e Richard R. Gaillardetz, As «chaves» do Concílio, Paulinas Editora, Prior Velho, 2012 (material protegido por leis de direitos autorais)


  • Eclesiologia eucarística [1]  [2]  [3]  [4]  [5]  [6]


Reflexões sobre a Igreja no Laboratório da fé

Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 7.8.13 | Sem comentários
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