Esta é a nossa fé [28]
Reflexão semanal
sobre o Credo Niceno-constantinopolitano
A vinda gloriosa de Jesus Cristo está associada, no «Credo», ao juízo no final dos tempos. Ao proclamarmos que Jesus Cristo «há de vir em sua glória», acrescentamos que essa vinda será «para julgar os vivos e os mortos». [Para ajudar a compreender melhor, ler: Mateus 25, 31-46; Catecismo da Igreja Católica, números 678-682]
«Perante Ele, vão reunir-se todos os povos» — refere o evangelista Mateus para ilustrar o encontro definitivo com Jesus Cristo. A este propósito, o papa Francisco disse: «À direita são postos aqueles que agiram segundo a vontade de Deus, socorrendo o próximo faminto, sequioso, estrangeiro, nu, doente e prisioneiro [...] e à esquerda estão quantos não socorreram o próximo. Isto diz-nos que nós seremos julgados por Deus segundo a caridade, segundo o modo como O tivermos amado nos nossos irmãos, especialmente os mais frágeis e necessitados. Sem dúvida, devemos ter sempre bem presente que somos justificados e salvos pela graça, por um gesto de amor gratuito de Deus, que sempre nos precede; sozinhos, nada podemos fazer. A fé é antes de tudo um dom que recebemos. Mas para que dê fruto, a graça de Deus exige sempre a nossa abertura a Ele, a nossa resposta livre e concreta. Cristo vem trazer-nos a misericórdia de Deus que salva. É-nos pedido que confiemos n’Ele, correspondendo ao dom do seu amor com uma vida boa, feita de gestos animados pela fé e pelo amor. Nunca tenhamos medo de olhar para o Juízo final; ao contrário, que ele nos leve a viver melhor o presente. Deus oferece-nos este tempo com misericórdia e paciência, a fim de aprendermos todos os dias a reconhecê-lo nos pobres e nos pequeninos, de trabalharmos para o bem e de sermos vigilantes na oração e no amor» (Audiência Geral de 24 de abril de 2013).
Para julgar. «A história humana tem início com a criação do homem e da mulher, à imagem e semelhança de Deus, e conclui-se com o Juízo final de Cristo. Esquecemo-nos muitas vezes destes dois polos da história, e sobretudo a fé na vinda de Cristo e no Juízo às vezes não é muito clara e sólida no coração dos cristãos» (Francisco, Audiência Geral de 24 de abril de 2013). A consciência de um «juízo» está presente desde sempre nos primeiros cristãos, como se pode comprovar em vários textos do Novo Testamento. Mas este conceito de juízo não está relacionado com um processo judicial. Uma infeliz associação produzida no âmbito da cultura romana transformou o «juízo final» num acontecimento dramático e trágico, como se fosse possível uma decisão arbitrária do juiz. «Se confiamos naquele que nos criou, também podemos ter plena confiança naquele que nos chama à salvação» (Olegario González de Cardedal, «Sobre la muerte», ed. Sígueme, Salamanca 2002, 66). Na Bíblia, o juiz, antes de ser aquele que premeia e castiga, é aquele que vela pela ordem e procura o restabelecimento do que foi destruído ou danificado. A imagem de Deus justiceiro é completamente falsa. «Ora, o Filho não veio para julgar, mas para salvar e dar a vida que tem em Si. É pela recusa da graça nesta vida que cada qual se julga já a si próprio» (Catecismo da Igreja Católica, 679). A salvação é um dom de Deus. Mas nem sempre o ser humano decide acolher esse dom. Essa é a nossa responsabilidade (cf. temas 15, 16 e 39). Basta estar atento aos textos do Novo Testamento para perceber que o juízo é uma consequência da liberdade humana, isto é, está dependente das decisões que tomamos durante a existência terrena. Na passagem do evangelho segundo Mateus, o rei não exerce nenhum julgamento. As palavras que pronuncia não são uma sentença, mas uma declaração que constata o comportamento de cada um: uns são benditos e outros malditos em função do que fizeram aos seus irmãos. Esclarece o Catecismo da Igreja Católica (número 682): «Cristo glorioso há de revelar a disposição secreta dos corações, e dará a cada um segundo as suas obras e segundo a aceitação ou recusa que tiver feito da graça».
Os vivos e os mortos. Jesus Cristo virá para «julgar os vivos e os mortos» significa dizer que é para todos os homens e mulheres de todos os tempos. «Nenhuma situação humana pode ser considerada ‘fora de jogo’, relativamente à oferta que Deus faz à liberdade das pessoas. [...] Somos continuamente convidados a não fazer batota, a ser verdadeiros e sinceros, a viver no sinal da coerência límpida e corajosa» (Dionigi Tettamanzi, «Esta é a nossa fé!», Paulinas, Prior Velho 2005, 101-102).
«Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo» (Mateus 25, 34).
© Laboratório da fé, 2013