Esta é a nossa fé [30]
Reflexão semanal
sobre o Credo Niceno-constantinopolitano
O «Credo» tem uma estrutura trinitária: divide-se em três partes, cada uma delas correspondendo a uma das Pessoas da Trindade: Pai, Filho, Espírito Santo. Por isso, entramos agora no artigo dedicado ao Espírito Santo. Tal como os outros, também este começa com uma afirmação de fé: «Creio no Espírito Santo». [Para ajudar a compreender melhor, ler: Atos dos Apóstolos 2, 1-13; Catecismo da Igreja Católica, números 683-688 e 692-701]
«Todos ficaram cheios do Espírito Santo» — relata o livro dos Atos dos Apóstolos ao evocar o dom do Espírito Santo oferecido aos apóstolos. Era o dia de «Pentecostes», uma festa judaica (cf. Deuteronómio 16, 9-12; Números 28, 26-31) cujo nome foi adotado pelos cristãos para designar esta nova realidade: a presença do Espírito Santo na vida da Igreja, na vida dos seres humanos. O relato dos Atos dos Apóstolos é composto por duas partes: a descida do Espírito Santo (versículos 1 a 4) e a constatação do milagre das línguas (versículos 5 a 13). Há uma mudança de cenário entre as duas partes: do espaço interior (casa) passa-se para o exterior (cidade); do grupo dos discípulos passa-se para uma multidão composta por pessoas «provenientes de todas as nações que há debaixo do céu». Embora a primeira cena seja a mais conhecida e a mais preferida dos artistas, o narrador desenvolve mais a segunda, através da descrição dos comentários e das reações dos presentes. A primeira observação que podemos fazer é que o Espírito provoca a unidade. Primeiro, a unidade do dom: «Todos ficaram cheios do Espírito Santo». E depois a unidade do anúncio: «cada um os ouvia falar na sua própria língua». Assim, é apresentado o início da Igreja, fundada pelo dom do Espírito Santo, que, embora constituída por povos de todo o mundo, vive unida pela mesma fé.
Creio. Ecoa de novo a afirmação de fé: «Creio» (cf. temas 1 e 7). «A palavra ‘Creio’ introduz-nos numa série de afirmações nas quais se sedimentou a memória de uma longa história de Deus com os seres humanos» (Dionigi Tettamanzi, «Esta é a nossa fé!», Paulinas, Prior Velho 2005, 21).
No Espírito Santo. «Crer no Espírito Santo é professar que o Espírito Santo é um das pessoas da Santíssima Trindade» (Catecismo da Igreja Católica, 685). Apesar de ser o «último na revelação das pessoas da Santíssima Trindade», o Catecismo da Igreja Católica, a partir de duas citações das cartas paulinas (Primeira Carta aos Coríntios 12, 3 e Gálatas 4, 6), afirma que «este conhecimento de fé só é possível no Espírito Santo. Para estar em contacto com Cristo, é preciso primeiro ter sido tocado pelo Espírito Santo. É Ele que vem ao nosso encontro e suscita em nós a fé. [...] O Espírito Santo, pela sua graça é o primeiro no despertar da nossa fé e na vida nova» (números 683 e 684). Mas se há uma dificuldade em abordar a Trindade a partir do Pai e do Filho, parece ser ainda mais difícil fazê-lo a partir do Espírito Santo. «Quando São Paulo chega a Éfeso, os discípulos que encontra dizem-lhe que nunca ouviram falar do Espírito Santo. Será que se Paulo viesse falar às nossas comunidades, não escutaria a mesma resposta? A nossa ideia do Espírito é muito confusa. Não sabemos que nome dar-Lhe nem como O representar. Só as metáforas exprimem um aspeto das suas manifestações: é sopro, fogo, vento, pomba, água, selo...» (Rui Alberto, «Eu creio, Nós cremos. Encontros sobre os fundamentos da fé», ed. Salesianas, Porto 2012, 132). O Catecismo da Igreja Católica (números 694 a 701) apresenta uma explicação para cada um dos símbolos que exprimem a ação do Espírito Santo: água, unção, fogo, nuvem e luz, selo, mão, dedo e pomba. De facto, constatamos que é mais fácil falar do «como» é a experiência do Espírito Santo na vida do que tentar explicar «quem» é o Espírito Santo. «Jesus ao anunciar e prometer a vinda do Espírito Santo, chama-Lhe o ‘Paráclito’, que, à letra, quer dizer: ‘aquele que é chamado para junto’, ‘advocatus’» (Catecismo da Igreja Católica 692). Por isso, entre os nomes mais comuns para designar o Espírito Santo aparecem os termos «Paráclito», «Advogado», «Defensor» e «Consolador». Além dos nomes e dos símbolos associados ao Espírito Santo, a doutrina tradicional da Igreja Católica, refere também sete dons (Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade, Temor de Deus) e doze frutos (Amor, Alegria, Paz, Paciência, Benignidade, Bondade, Longanimidade, Mansidão, Fé, Modéstia, Continência e Castidade).
«Acreditar no Espírito Santo significa acreditar que Deus atua sem parar na história da humanidade. Ele nunca deixou de Se exprimir em palavras que podemos entender» (Rui Alberto, 132).
© Laboratório da fé, 2013