Nihil Obstat — blogue de Martín Gelabert Ballester
A metáfora não é uma coisa falsa. É uma comparação entre duas realidades: uma desconhecida ou difícil de expressar e outra mais acessível e fácil de entender, para conseguir ter uma ideia aproximada da primeira a partir da segunda. Quando, para nos referirmos à Ascensão do Senhor, utilizamos termos como «subiu aos Céus» ou «está sentado à direita do Pai» estamos a empregar metáforas que ajudam a dar um conteúdo à nossa fé. Porque a fé quer compreender, precisamente porque se refere a realidades decisivas nas quais está em jogo a vida humana. Tomás de Aquino, no seu Comentário ao Símbolo dos Apóstolos, diz: «o termo 'direita' não se aplica a Deus no sentido material, mas metafórico». O que se pretende dizer com este termo é que Jesus é igual ao Pai, que com a sua ascensão alcançou o maior de todos os bens, que é a vida com Deus. São Tomás acrescenta que isto de alcançar o maior de todos os bens está dirigido contra o diabo, que segundo o profeta Isaías (14, 13) quer colocar o seu trono acima das estrelas de Deus e tornar-se semelhante ao Altíssimo. Pois bem, diz o nosso autor, «isto não se cumpriu senão em Cristo».
Agora que estamos a chegar ao final do tempo pascal, vale a pena referir que a Páscoa, chave e centro da fé, ponto de partida cronológico e teológico da fé cristã, é um acontecimento de uma riqueza tal que é impossível descrevê-lo apenas com uma imagem. Por isso, celebramos o mistério pascal durante cinquenta dias e continuamos a prolongar esta celebração em cada domingo. Trata-se de um acontecimento único, embora nós, para o entendermos melhor, celebramo-lo por etapas. Dito de outra maneira: Sexta-feira Santa, Páscoa, Ascensão e Pentecostes são a mesma realidade. Pode-se falar de quatro momentos, mas são mais perspetivas distintas do mesmo acontecimento. Quando é que Jesus sobe ao Céu, quando é que entra no mundo de Deus para nunca mais morrer? No dia da ressurreição. A ressurreição é a subida de Jesus ao Céu. E a partir do Céu assegura a perene efusão do Espírito, que ele entregou no dia da sua Crucifixão: ao morrer, diz o evangelho de João, entregou o seu espírito. Ao morrer, o que é que aconteceu? Isso mesmo, Deus acolheu-o para sempre no seu seio.
A unidade entre ressurreição e exaltação, anotada em quase todos os escritos do Novo Testamento, parece ser rompida em Lucas, que entre a ressurreição e a ascensão intercala um tempo (simbólico) de quarenta dias. Este relato foi o que mais influenciou nas conceções correntes da fé. Mas isto não pode fazer-nos perder de vista o sentido teológico da ascensão, a saber: o ser de Jesus com Deus e o novo modo de estar connosco a partir de Deus.
A metáfora não é uma coisa falsa. É uma comparação entre duas realidades: uma desconhecida ou difícil de expressar e outra mais acessível e fácil de entender, para conseguir ter uma ideia aproximada da primeira a partir da segunda. Quando, para nos referirmos à Ascensão do Senhor, utilizamos termos como «subiu aos Céus» ou «está sentado à direita do Pai» estamos a empregar metáforas que ajudam a dar um conteúdo à nossa fé. Porque a fé quer compreender, precisamente porque se refere a realidades decisivas nas quais está em jogo a vida humana. Tomás de Aquino, no seu Comentário ao Símbolo dos Apóstolos, diz: «o termo 'direita' não se aplica a Deus no sentido material, mas metafórico». O que se pretende dizer com este termo é que Jesus é igual ao Pai, que com a sua ascensão alcançou o maior de todos os bens, que é a vida com Deus. São Tomás acrescenta que isto de alcançar o maior de todos os bens está dirigido contra o diabo, que segundo o profeta Isaías (14, 13) quer colocar o seu trono acima das estrelas de Deus e tornar-se semelhante ao Altíssimo. Pois bem, diz o nosso autor, «isto não se cumpriu senão em Cristo».
Agora que estamos a chegar ao final do tempo pascal, vale a pena referir que a Páscoa, chave e centro da fé, ponto de partida cronológico e teológico da fé cristã, é um acontecimento de uma riqueza tal que é impossível descrevê-lo apenas com uma imagem. Por isso, celebramos o mistério pascal durante cinquenta dias e continuamos a prolongar esta celebração em cada domingo. Trata-se de um acontecimento único, embora nós, para o entendermos melhor, celebramo-lo por etapas. Dito de outra maneira: Sexta-feira Santa, Páscoa, Ascensão e Pentecostes são a mesma realidade. Pode-se falar de quatro momentos, mas são mais perspetivas distintas do mesmo acontecimento. Quando é que Jesus sobe ao Céu, quando é que entra no mundo de Deus para nunca mais morrer? No dia da ressurreição. A ressurreição é a subida de Jesus ao Céu. E a partir do Céu assegura a perene efusão do Espírito, que ele entregou no dia da sua Crucifixão: ao morrer, diz o evangelho de João, entregou o seu espírito. Ao morrer, o que é que aconteceu? Isso mesmo, Deus acolheu-o para sempre no seu seio.
A unidade entre ressurreição e exaltação, anotada em quase todos os escritos do Novo Testamento, parece ser rompida em Lucas, que entre a ressurreição e a ascensão intercala um tempo (simbólico) de quarenta dias. Este relato foi o que mais influenciou nas conceções correntes da fé. Mas isto não pode fazer-nos perder de vista o sentido teológico da ascensão, a saber: o ser de Jesus com Deus e o novo modo de estar connosco a partir de Deus.
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Martín Gelabert Ballester, frade dominicano, nasceu em Manacor (Ilhas Baleares) e reside em Valencia (Espanha). É autor do blogue «Nihil Obstat» (em espanhol), que trata de questões religiosas, teológicas e eclesiais. Pretende ser um espaço de reflexão e diálogo. O autor dedica o seu tempo à pregação e ao ensino da teologia, especialmente antropologia teológica e teologia fundamental.
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