Esta é a nossa fé [25]


Reflexão semanal 
sobre o Credo Niceno-constantinopolitano

Estamos no coração da nossa fé cristã — dissemos a propósito dos temas anteriores: «Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras». Agora, continuando a reflexão central da fé cristã, afirmamos a Ascensão de Jesus Cristo: «subiu aos Céus». [Para ajudar a compreender melhor, ler: Atos dos Apóstolos 1, 1-11; Catecismo da Igreja Católica, números 659 a 667]

«Elevou-se à vista deles e uma nuvem subtraiu-o a seus olhos» — descreve o início do livro dos Atos dos Apóstolos, ao referir-se à Ascensão de Jesus, depois de se ter mostrado (aparecido) vivo «durante quarenta dias» aos discípulos. Nesta frase, podemos considerar dois temas: a subida e a nuvem. «Com esta expressão — ‘elevou-se à vista deles’ —, que corresponde à experiência sensível e espiritual dos apóstolos, evoca-se o movimento ascensional, uma passagem da terra ao céu, sobretudo como sinal de outra ‘passagem’: Cristo passa ao estado de glorificação em Deus. O primeiro significado da Ascensão é precisamente este: revelar que o Ressuscitado entrou na intimidade celestial de Deus» (João Paulo II, Audiência Geral de 12 de abril de 1989). A temática da nuvem completa esta dimensão com o sinal bíblico da presença de Deus. Entre outros, «a nuvem recorda-nos o momento da transfiguração, em que uma nuvem luminosa pousou sobre Jesus e os discípulos (cf. Mateus 17, 5; Marocs 9, 7; Lucas 9, 34-35). Recorda-nos a hora do encontro entre Maria e o mensageiro de Deus, Gabriel, o qual lhe anuncia que a força do Altíssimo ‘estenderá sobre ela a sua sombra’ (cf. Lucas 1, 35). Recorda-nos a tenda sagrada de Deus na Antiga Aliança, onde a nuvem é o sinal da presença do Senhor (cf. Êxodo 40, 34-35), o qual, inclusive durante a peregrinação no deserto, precede Israel como nuvem (cf. Êxodo 13, 21-22). A afirmação sobre a nuvem é claramente teológica. Apresenta o desaparecimento de Jesus não como uma viagem em direção às estrelas, mas como a entrada no mistério de Deus» (Bento XVI, «Jesus de Nazaré. Parte II — Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição, Princípia Editora, Cascais 2011, 228).

Subiu aos Céus. Não podemos entender esta expressão como uma referência de espaço e de tempo. Apesar de conhecermos a descrição visual da Ascensão, o termo «céus» não pode ser confundido com a abóbada celeste. Aqui, os «céus» simbolizam o ser de Deus. Ao dizermos que Jesus «subiu aos Céus», afirmamos que está no ser de Deus, participa na vida de Deus. «A ascensão aos Céus constitui a etapa final da peregrinação terrena de Cristo, Filho de Deus, consubstancial ao Pai, que se fez homem para nossa salvação. Mas esta última etapa permanece intimamente ligada à primeira, isto é, com a sua ‘descida dos Céus’, ocorrida na Encarnação» (João Paulo II, Audiência Geral de 5 de abril de 1989). A presença física de Jesus Cristo na nossa história está assinalada pela descida dos Céus e pela subida aos Céus. Não esqueçamos que se trata de uma linguagem imperfeita (cf. tema 16): subida e descida são referências de espaço e de tempo, que não podem ser tomadas de forma literal. «A Ascensão é a comprovação da sua Encarnação. A subida de Jesus aos céus põe na claridade o compromisso de Deus com a nossa humanidade» (Mons. Christophe Dufour, «Cinco pequenas catequeses sobre o Credo», ed. Salesianas, Porto 2012, 46).

Quarenta dias. «Jesus Cristo subiu aos Céus no mesmo dia em que ressuscitou, quer dizer, no domingo de Páscoa. A sua saída do túmulo e a sua ascensão constituíram um mesmo acontecimento. [...] S. Marcos, por exemplo, apresenta Jesus a subir ao céu no domingo de Páscoa (16, 19). Também S. Lucas diz que a ressurreição de Jesus (24, 3), a aparição aos discípulos de Emaús (versiculo 13), a despedida (v. 44), e a ascensão (v. 51), aconteceram no mesmo dia de Páscoa» (Ariel Alvarez Valdés, «Enigmas da Bíblia. Novo Testamento», Difusora Bíblica, Fátima 2005, 153-154). Então, porque é que o livro dos Atos dos Apóstolos faz referência a quarenta dias? Não se trata de uma referência temporal, mas simbólica; «Na Bíblia, usa-se muitas vezes este número para significar a ‘passagem’ de um período para outro, o ‘fim’ de uma geração e o início de outra. [...] Usou o número simbólico quarenta, para dizer que, com a ascensão de Jesus, havia terminado um ciclo (o da tarefa que Jesus tinha de realizar na terra), e teve início outro (o do trabalho a ser desenvolvido pelos apóstolos em lugar de Jesus)» (Ariel A. Valdés, 154-156).

Esta afirmação — «subiu aos Céus» — desperta o nosso compromisso de discípulos: temos de deixar de olhar para as nuvens, para fazermos o mesmo caminho inaugurado por Jesus Cristo.

© Laboratório da fé, 2013
Credo niceno-constantinopolitano: Ascensão — Laboratório da fé  Credo niceno-constantinopolitano: Ascensão — Laboratório da fé

Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 18.4.13 | Sem comentários
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