— No Dia Internacional da Mulher, Ana Teresa Caridade inicia as suas partilhas no Laboratório da fé —

Iniciei a minha procura desde tenra idade… certamente porque aos 2 anos e meio tive uma grande perda. Das minhas primeiras memórias foi um cemitério cheio de gente e eu perdida a questionar sobre a existência de Deus. Deus existe? Se existe porque levou alguém tão especial tão cedo? Não sei se foi assim que eu pensei na altura mas esse foi o mote para a minha peregrinação.
Todo o meu percurso de fé foi com questionamentos incessantes sobre a razão da existência, a vida e a morte e o entendimento do que é ser humano. Fui procurando explicações em livros, formações… mas a verdade é que a vida foi a minha melhor professora, proporcionando-me experiências que me foram enriquecendo como ser humano e explicando algumas das minhas inquietações.
Desde muito cedo, comecei a ter contacto com as desigualdades sociais, com grupos de risco, com a etnia cigana, com aditos e alcoólicos. Estas realidades, das minorias, faziam ainda mais questionar os possíveis rumos que o ser humano escolhe para si… e porque o faz? Quais são as dores por trás desses comportamentos que os distanciam da dita normalidade e que os excluem da comunidade?
A comunidade sempre foi o meu lema, cresci a sentir o quanto faz sentido esta partilha e interajuda. Vivenciei desde sempre, talvez o aprender a viver sem pai numa família e a união ser o lema para superar obstáculos… o amor dos meus avós fizeram-me acreditar nas relações de amor e na construção de vidas em partilha. Tive marcos que me tatuaram de tal forma que fizeram com que a minha fé estivesse presente mesmo em dias de noite escura da alma.
Quando cheguei à juventude comecei uma demanda em busca do Sagrado. A minha eterna curiosidade sobre o ser humano em relação (consigo, com o Outro, com o mundo e com o Sagrado). Estudei culturas diferentes, fui ouvindo as histórias dos ancestrais. Deliciava-me com a magia da transmissão de conhecimentos sobre vida através deste “boca a orelha” e como esta sabedoria passava de geração em geração! Sonhei ser antropóloga - assim qualquer coisa do género – queria conhecer as culturas diferentes e aprender a viver. Ou seria fotógrafa? Sonhava fotografar as pessoas, rostos, sorrisos, lágrimas… o ser humano em expressão. Como é que ele se liga com o Sagrado? Será que vivem em comunidade? E como acolhem o que está mais perdido?
Encontrei de forma mais íntima Jesus Cristo… e encheu-me a Alma. Tornei-me sua seguidora… a minha admiração e devoção por Ele foi crescendo conforme O fui conhecendo. Encontrei o meu Mestre. E decidi que uma parte da minha vida diária seria dedicado a Ele, a transmitir o que aprendi sobre a sua vida. Tornei-me professora de Educação Moral e Religiosa Católica.
Não fico por aqui… outros amores clamam por mim: a arte e o trabalho social, especialmente com minorias. Acreditei que poderia compilar e cruzar estas áreas que sempre foram amores para mim: crescimento pessoal e espiritual, arte e comunidade. Fui explorando a dança, o teatro, a música e a narração oral. Senti necessidade de explorar várias técnicas de psicoterapia para chegar mais perto do que é ser humano em dor. 
E assim, de forma resumida, cheguei ao que sou hoje… um ser humano em eterna construção, como um poema inacabado. Nas minhas frases têm horas de dedicação a alunos de escolas, a investigação em comunidades e trabalho social.

© Ana Teresa Caridade
© Laboratório da fé, 2013



Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 8.3.13 | Sem comentários
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