[...] O elo fundamental da nova evangelização e o motivo básico pelo qual o Papa Bento XVI promulgou o Ano da Fé coincidem: precisamos de presbíteros renovados na sua fé.
Sejamos mais precisos: as boas iniciativas de evangelização morrem em caixotes escondidos de cartórios paroquiais e em depósitos sombrios de veneráveis claustros conventuais. A equação é simples de fazer: a grande maioria dos católicos conhecem alguma coisa dos planos e projetos da Igreja quando quando se deslocam à sua paróquia. De facto, para conhecer o obscuro da Igreja ou para desconhecer o luminoso da Igreja, bastam e sobejam os meios de comunicação, que sabem que terão audiência assegurada remexendo com gracejos e difamação toda a sujidade da Casa de Deus. Para isso não é preciso ir a um templo.
Mas, em contrapartida: Onde é que um leigo por si mesmo pode inteirar-se de que existe algo belo que se chama conversão, ou que existe algo luminoso e inspirador que se chama santidade? Uns quantos, que talvez tenhamos de olhar com afortunados, participam regularmente em pequenas comunidades surgidas dos movimentos eclesiais. Quer se trate de carismáticos, neocatecumenais, focolares, ou semelhantes, estes abençoados terão um imagem mais ampla, justa e fresca do que significa ser Igreja. Contudo, se falarmos de percentagens, é muito maior o número do que, considerando-se ligados à fé católica, não farão muito mais do que ir por inércia invencível à sua paróquia, sem muita clareza do que podem esperar ou do que podem contribuir, além da habitual esmola na missa.
É aqui que o pároco, e em especial o presbítero diocesano, tem um papel insubstituível. Se se torna num funcionário semi-distraído, a sua palavra vaga e incapaz de inspirar resvalará sem efeito sobre a carapaça da indiferença que já traziam os seus semi-distraídos paroquianos. Em tais circunstâncias, a vida sacramental, e sobretudo a Eucaristia, converte-se num ritual vazio; uma espécie de teatro tanto menos compreensível quanto mais jovens são os que o têm de presenciar e aguentar.
E qual é a alternativa a este pároco semi-distraído? Tem vários nomes, entre os quais se destaca: um homem de fé.
Está claro que o Ano da Fé tem entre os seus pressupostos um muito claro: não se pode dar por garantido que alguém é crente. Não esqueçamos que o mundo exerce uma pressão forte para que nós os presbíteros olhemos a nossa vida como um ofício ou como uma qualquer profissão. Se como presbíteros caímos nesta armadilha, o passo seguinte é ver-nos como funcionários que medem a sua «gestão» em termos do que «há para fazer», e, portanto, em termos de continuar cega e preguiçosamente umas regras, receitas ou instruções. Num ambiente semelhante a mediocridade floresce, a lei do menor esforço impõe-se, e uma conclusão torna-se evidente: de um pároco assim ninguém espere criatividade, zelo, amor à Cruz ou paixão pela santidade. Ao mesmo tempo, chegado o domingo, os seus semi-distraídos paroquianos estarão à espera que não demore muito na missa obrigada, de modo que rapidamente possam ir embora — ou voltar — ao seu mundo, esse mundo no qual acontecem coisas apaixonantes; mundo que promete explicar tudo com a ciência e resolver tudo com comprimidos, receitas ou terapias da última moda. [...]
Um homem de fé é, em boa medida, um homem insatisfeito. Felizes os que sentem essa insatisfação que os põe na rota da descoberta da imensa distância que separa o que o mundo é perante os nossos olhos e o que o mundo é chamado a ser perante os olhos de Deus. [...]
Por isso, a nova evangelização requer novos evangelizadores, e até mais do que isso: evangelizadores renovados. A primeira porta de entrada numa fé renovada, para milhões e milhões de católicos, será o que ouvem dos seus párocos na missa dominical. O peso específico do Ano da Fé para milhões e milhões de católicos está em proporção direta com o peso específico que tenham os interesses de Cristo no pároco que os saúda todos os domingos e celebra com eles a oração por excelência.
O pároco é o elo fundamental no caminho que vai desde uma boa ideia até uma estratégia pastoral efetiva, carregada de amor e de vida que perdura. Se esse elo se rompe, também se rompe o bem que se ia alcançar. Se esse elo está firme, temos esperança de ver rapidamente amanhecer a graça em muitas vidas.
© Frei Nelson Medina, OP
© tradução e adaptação de Laboratório da fé
Sejamos mais precisos: as boas iniciativas de evangelização morrem em caixotes escondidos de cartórios paroquiais e em depósitos sombrios de veneráveis claustros conventuais. A equação é simples de fazer: a grande maioria dos católicos conhecem alguma coisa dos planos e projetos da Igreja quando quando se deslocam à sua paróquia. De facto, para conhecer o obscuro da Igreja ou para desconhecer o luminoso da Igreja, bastam e sobejam os meios de comunicação, que sabem que terão audiência assegurada remexendo com gracejos e difamação toda a sujidade da Casa de Deus. Para isso não é preciso ir a um templo.
Mas, em contrapartida: Onde é que um leigo por si mesmo pode inteirar-se de que existe algo belo que se chama conversão, ou que existe algo luminoso e inspirador que se chama santidade? Uns quantos, que talvez tenhamos de olhar com afortunados, participam regularmente em pequenas comunidades surgidas dos movimentos eclesiais. Quer se trate de carismáticos, neocatecumenais, focolares, ou semelhantes, estes abençoados terão um imagem mais ampla, justa e fresca do que significa ser Igreja. Contudo, se falarmos de percentagens, é muito maior o número do que, considerando-se ligados à fé católica, não farão muito mais do que ir por inércia invencível à sua paróquia, sem muita clareza do que podem esperar ou do que podem contribuir, além da habitual esmola na missa.
É aqui que o pároco, e em especial o presbítero diocesano, tem um papel insubstituível. Se se torna num funcionário semi-distraído, a sua palavra vaga e incapaz de inspirar resvalará sem efeito sobre a carapaça da indiferença que já traziam os seus semi-distraídos paroquianos. Em tais circunstâncias, a vida sacramental, e sobretudo a Eucaristia, converte-se num ritual vazio; uma espécie de teatro tanto menos compreensível quanto mais jovens são os que o têm de presenciar e aguentar.
E qual é a alternativa a este pároco semi-distraído? Tem vários nomes, entre os quais se destaca: um homem de fé.
Está claro que o Ano da Fé tem entre os seus pressupostos um muito claro: não se pode dar por garantido que alguém é crente. Não esqueçamos que o mundo exerce uma pressão forte para que nós os presbíteros olhemos a nossa vida como um ofício ou como uma qualquer profissão. Se como presbíteros caímos nesta armadilha, o passo seguinte é ver-nos como funcionários que medem a sua «gestão» em termos do que «há para fazer», e, portanto, em termos de continuar cega e preguiçosamente umas regras, receitas ou instruções. Num ambiente semelhante a mediocridade floresce, a lei do menor esforço impõe-se, e uma conclusão torna-se evidente: de um pároco assim ninguém espere criatividade, zelo, amor à Cruz ou paixão pela santidade. Ao mesmo tempo, chegado o domingo, os seus semi-distraídos paroquianos estarão à espera que não demore muito na missa obrigada, de modo que rapidamente possam ir embora — ou voltar — ao seu mundo, esse mundo no qual acontecem coisas apaixonantes; mundo que promete explicar tudo com a ciência e resolver tudo com comprimidos, receitas ou terapias da última moda. [...]
Um homem de fé é, em boa medida, um homem insatisfeito. Felizes os que sentem essa insatisfação que os põe na rota da descoberta da imensa distância que separa o que o mundo é perante os nossos olhos e o que o mundo é chamado a ser perante os olhos de Deus. [...]
Por isso, a nova evangelização requer novos evangelizadores, e até mais do que isso: evangelizadores renovados. A primeira porta de entrada numa fé renovada, para milhões e milhões de católicos, será o que ouvem dos seus párocos na missa dominical. O peso específico do Ano da Fé para milhões e milhões de católicos está em proporção direta com o peso específico que tenham os interesses de Cristo no pároco que os saúda todos os domingos e celebra com eles a oração por excelência.
O pároco é o elo fundamental no caminho que vai desde uma boa ideia até uma estratégia pastoral efetiva, carregada de amor e de vida que perdura. Se esse elo se rompe, também se rompe o bem que se ia alcançar. Se esse elo está firme, temos esperança de ver rapidamente amanhecer a graça em muitas vidas.
© Frei Nelson Medina, OP
© tradução e adaptação de Laboratório da fé
Fala-se muito de fé ao longo deste ano. Penso que era preciso ir mais ao concreto. Será que sabemos o que é afé? Como traduzi-la na vida pessoal? como aumentá-la e trduzi-la em frutos de amor a Deus? E como fazê-la passar aos que encontro no meu caminho?
ResponderEliminarSerá que a minha fé é grande? Eu penso muito nisto,
As questões que coloca a Lúcia Ferreira dos Santos são uma das razões da existência desta página. O Laboratório da fé não tem soluções nem respostas feitas, mas pode ajudar-nos a fazer caminho, a procurar aprofundar esta dimensão essencial do ser humano que é a confiança (fé).
ResponderEliminarTodas as questões são pertinentes e complexas. Mas para a primeira porque não começar pela «catequese» do Papa em que o próprio também coloca a pergunta: O que é a fé? > http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2012/documents/hf_ben-xvi_aud_20121024_po.html