Hoje cumpre-se a Escritura. A leitura evangélica deste domingo é formada por uma união de dois fragmentos independentes: o prólogo do evangelho (Lucas 1, 1-4) e o discurso de Jesus na sinagoga de Nazaré (Lucas 4, 14-21). Ambos os textos são programáticos, porque funcionam como um guia de leitura para todo o evangelho.
Imitando o estilo dos historiadores do seu tempo, Lucas coloca um prólogo no início da sua obra, no qual declara o que se propõe escrever, de quem aprendeu, como escreve e que finalidade pretende. O tema do livro é «tudo o que Jesus fez e ensinou» (Atos 1, 1). A fonte onde se inspira são os apóstolos, isto é, as testemunhas oculares. O método utilizado caracteriza-se por três qualidades: investigação completa, exatidão e ordem pedagógica. A finalidade é que o amigo Teófilo e os demais cristãos reconheçam que a sua fé se apoia numa firme realidade histórica. Para Lucas, Jesus não é uma ideia, um mito ou um símbolo revestido de história, mas um personagem enraizado na nossa história, centro e razão da nossa existência.
Lucas inaugura o ministério de Jesus com um episódio localizado na sinagoga de Nazaré. É evidente que ele reelaborou e adaptou a perícope de Marcos (6, 1-6), onde o mesmo episódio conclui a missão de Jesus na Galileia. A Lucas interessa-lhe que a atividade pública de Jesus comece em Nazaré, onde também teve a sua origem (cf. Lucas 1, 26). Deste modo, Lucas 4, 16-21(30) converte-se num texto programático, o «manifesto de Nazaré», que apresenta o programa do que será o ministério de Jesus e também a prefiguração do seu destino.
Lucas descreve cuidadosamente todas as ações de Jesus: chega a Nazaré, entra na sinagoga, levanta-se para ler, abre o livro, enrola-o, entrega-o, senta-se e explica o que tinha lido. É de notar que na explicação Jesus não faz referência à sua pessoa. A passagem de Isaías alude diretamente a Jesus (ele é o Ungido do Senhor), mas o próprio mostra-se receoso em manifestá-lo abertamente. Jesus não comenta o texto de Isaías como nós o faríamos hoje, mas confirma a palavra do profeta tornando atual a sua mensagem: «Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura» (v. 21). A afirmação fixa-se no hoje, não na sua pessoa, pois a finalidade é que os ouvintes deem conta de que estão a viver um tempo de graça. O hoje inaugura o tempo da salvação.

© Nuria Calduch Benages
© Tradução e adaptação de Laboratório da fé



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    — Evangelho segundo Lucas 1, 1-4; 4, 14-21 > > >

     


    Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 27.1.13 | Sem comentários
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