— Erri De Luca, «Caroço de Azeitona», ed. Assírio & Alvim, Lisboa 2009, 13-14 —

Chegou sem ser esperado, veio sem ter sido concebido. Só a mãe sabia que era filho de um anúncio do sémen que existe na voz de um anjo. Tinha acontecido a outras mulheres hebreias, a Sara por exemplo.
Só as mulheres, as mães, sabem o que é o verbo esperar. o género masculino não tem constância nem corpo para hospedar esperas. Sinto de novo a agravante de ignorar fisicamente a voz do verbo esperar. Não por impaciência, mas por falta de capacidade nem mesmo durante as febres de malária me acontecia recorrer ao repertório das fantasias para me curar, de estar à espera de.
Nos despertares matutinos ao folhear Isaías leio: «Felizes aqueles que o esperam» (Is 30, 18). Não conheci esta sábia e física alegria. Mas mais forte do que esta notícia, no mesmo versículo está escrito «Por isso esperará Iod/Deus para vos fazer misericórdia». Existe uma primeira espera, que espera por Deus e tem o mesmo verbo hebraico hacchè. Na sua redução à forma da espécie humana, o Seu tempo infinito contrai-se no finito de uma espera. Deus espera: «para vos fazer misericórdia».
O tempo de Advento vive desta imitação, defronte à eternidade de um Deus que aceita fazer-se tempo, irrompe no mundo em meses estabelecidos com nascimento, morte e ressurreição.
Quem tem no seu corpo os recursos para conceber esperas, conhece no versículo de Isaías a imensidade da correspondente espera de Deus.

Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 11.12.12 | Sem comentários
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