Ao ritmo da liturgia


Vigésima primeira semana


A salvação é uma questão de responsabilidade pessoal 

Jesus Cristo fala de uma sala, com uma única porta de entrada (sempre aberta), onde se celebra o banquete do Reino de Deus. À pergunta lançada por alguém do meio do público, que quer saber quantos entrarão na sala, Jesus Cristo parece não responder, embora possamos vislumbrar uma perspetiva: são muitos, ou melhor, todos são convidados para o banquete do Reino de Deus.
«Esforçai-vos por entrar pela porta estreita». Os alertas de Jesus Cristo não são apenas para os judeus do seu tempo ou para os primeiros cristãos. As exortações de Jesus Cristo também se aplicam à Igreja, aos cristãos dos tempos atuais. Ou será que já desapareceram as ânsias de poder, a procura das honras, dos títulos ou dos primeiros lugares?!
«Não sei donde sois». Simples e direto, para aqueles que se afastam da «lógica» proposta pelo Evangelho, mesmo que vivam mergulhados no ambiente eclesial! Não é difícil perceber que as palavras de Jesus Cristo se dirigem a muitos que participaram na mesa do pão da vida e na mesa da palavra de Deus — hoje, diríamos, na Eucaristia — mas não serão reconhecidos como dignos do Reino de Deus. Não é suficiente uma vida de oração e de sacramentos, se em nós não há uma mudança definitiva, radical...
Há critérios que se podem discutir. Há denúncias que podem ser injustas. Há críticas que podem falhar o alvo. Há conspirações que apenas pretendem destruir a vida das pessoas e das instituições. Mas, há o Evangelho. Há a palavra de Jesus Cristo. Não podemos deixar que passe ao nosso lado, como se fosse (sempre ou apenas) dirigida aos outros!
«Comemos e bebemos contigo». [Comigo, não]. Comeste e bebeste com os poderosos da terra, com os chefes dos governos das nações, com os políticos que defendiam os vossos interesses pessoais, com os falsos patrocinadores de supostas iniciativas de caridade, com os meios de comunicação que encobriam a vossa falta de transparência, com os que vos reverenciavam com títulos honrosos...
«Ensinaste nas nossas praças». [Eu não ensinei nada disso]. Vós é que ensinastes coisas que em nada têm a ver com o Evangelho: uma teologia abstrata sem qualquer ligação com a vida; uma moral obcecada com o pecado e sem lugar para a misericórdia; uma instituição que copia o pior das outras, principalmente no que diz respeito ao poder. Entretanto, ficastes calados perante as injustiças, a corrupção, a escravidão, a violência, a recusa dos marginalizados, o fanatismo, a xenofobia...
«Há últimos que serão dos primeiros». Os pobres, os jovens, os sinceros (mesmo que sejam ateus), os excomungados pela justiça, os excluídos do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e muitos outros considerados últimos serão os primeiros a sentar-se à mesa no Reino de Deus.
A salvação não é um privilégio, um direito adquirido (DOMINGO: «São poucos os que se salvam?»). A salvação é uma questão de responsabilidade pessoal (SEGUNDA: «Vós não entrais nem deixais entrar os que o desejam»). A «porta estreita» significa exigência (TERÇA: «Omitis [...] a justiça, a misericórdia e a fidelidade»). Ser discípulo de Jesus Cristo não é compatível com uma vida egoísta e preguiçosa. Não basta ter sido batizado (QUARTA: «Por dentro estais cheios de hipocrisia e maldade»), conhecer a «doutrina» da Igreja (QUINTA: «Quando o ouvia, ficava perturbado»)... O convite é dirigido a todos («SEXTA: «Ide ao seu encontro»). Mas precisa de ser acolhido. Portanto, não precisamos de ter medo. Confiança em Deus, sim. Despreocupação e falsas seguranças (SÁBADO: «Servo mau e preguiçoso»), não.

Nesta semana, recorda que Jesus Cristo convida à confiança. A porta está sempre aberta! Mas fala de esforço: a salvação é um dom gratuito que exige de nós uma resposta, uma resposta de amor. O que significa, para mim, esforçar-se por entrar pela porta estreita? Não nos pede para ser «super-homem» ou «super-mulher», mas algo mais simples, embora mais essencial: que toda a nossa vida e todos os nossos atos estejam fecundados pelo amor.

A elaboração deste texto foi inspirada na obra de José Luis Cortés, El ciclo C, Herder Editorial e nos textos publicados neste «Laboratório da fé» a propósito do vigésimo primeiro domingo
© Laboratório da fé, 2013

Vigésima primeira semana, no Laboratório da fé, 2013
Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 25.8.13 | 2 comentários
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